sexta-feira, 6 de abril de 2012

Crer e não crer. Um sentido para a religião.

Fragmento mais antigo do manuscrito do Evangelho de João; aproximadamente 125 AD
© John Rylands Library of Manchester


Em tempo da Páscoa (passagem, ressurreição, renascimento, reinicio) sempre me ocorre esse momento, que encerra o Evangelho de Joao (capitulo 21), que, para mim, guarda o sentido de religião: amizade, compaixão, perdão, esperança, recomeço.

A passagem tem uma beleza impar, do ponto de vista ético e literario. Nada mais lirico do que o encontro do mestre e de seus alunos, dos amigos, enfim, em torno do moquém, em que se prepara o peixe. Depois de repartirem o alimento, o mestre pede a um de seus alunos, que alimente todos os demais, que retransmita o que ensinou a todos, como o pastor acolhe e protege suas ovelhas. A outro, pede apenas que o espere, que permaneça. A uns, que o sigam, a outros, que guardem sua integridade, o que sao genuinamente.

Eis a bela passagem da pesca e refeição matinal: 

"E, sendo já manhã, Jesus se apresentou na praia, mas os discípulos não conheceram que era Jesus.
Disse-lhes, pois, Jesus: Filhos, tendes alguma coisa de comer? Responderam-lhe: Não.
E ele lhes disse: Lançai a rede para o lado direito do barco, e achareis. Lançaram-na, pois, e já não a podiam tirar, pela multidão dos peixes.
Então aquele discípulo, a quem Jesus amava, disse a Pedro: É o Senhor. E, quando Simão Pedro ouviu que era o Senhor, cingiu-se com a túnica (porque estava nu) e lançou-se ao mar.
E os outros discípulos foram com o barco (porque não estavam distantes da terra senão quase duzentos côvados), levando a rede cheia de peixes.
Logo que desceram para terra, viram ali brasas, e um peixe posto em cima, e pão.
Disse-lhes Jesus: Trazei dos peixes que agora apanhastes.
Simão Pedro subiu e puxou a rede para terra, cheia de cento e cinqüenta e três grandes peixes e, sendo tantos, não se rompeu a rede.
Disse-lhes Jesus: Vinde, comei. E nenhum dos discípulos ousava perguntar-lhe: Quem és tu? sabendo que era o Senhor.
Chegou, pois, Jesus, e tomou o pão, e deu-lhes e, semelhantemente o peixe.
E já era a terceira vez que Jesus se manifestava aos seus discípulos, depois de ter ressuscitado dentre os mortos.
E, depois de terem jantado, disse Jesus a Simão Pedro: Simão, filho de Jonas, amas-me mais do que estes? E ele respondeu: Sim, Senhor, tu sabes que te amo. Disse-lhe: Apascenta os meus cordeiros.
Tornou a dizer-lhe segunda vez: Simão, filho de Jonas, amas-me? Disse-lhe: Sim, Senhor, tu sabes que te amo. Disse-lhe: Apascenta as minhas ovelhas.
Disse-lhe terceira vez: Simão, filho de Jonas, amas-me? Simão entristeceu-se por lhe ter dito terceira vez: Amas-me? E disse-lhe: Senhor, tu sabes tudo; tu sabes que eu te amo. Jesus disse-lhe: Apascenta as minhas ovelhas... 
Segue-me.
E Pedro, voltando-se, viu que o seguia aquele discípulo a quem Jesus amava, e que na ceia se recostara também sobre o seu peito, e que dissera: Senhor, quem é que te há de trair?
Vendo Pedro a este, disse a Jesus: Senhor, e deste que será?
Disse-lhe Jesus: Se eu quero que ele fique até que eu venha, que te importa a ti? Segue-me tu... 
Há, porém, ainda muitas outras coisas que Jesus fez; e se cada uma das quais fosse escrita, cuido que nem ainda o mundo todo poderia conter os livros que se escrevessem..."


Sente-se a alegria do encontro, a beleza da paisagem da manhã, talvez a brisa que segue o lago, ouve-se o riso dos amigos, que brincam e aproveitam o termino do trabalho bem feito, da pesca frutífera, no descanso que a refeição permite.


Não fugir da verdade, perdoar, recomeçar, comprometer-se com os outros, com o futuro, guardar esperança, ter compaixão, compartilhar, guardar-se integro, grande. Tudo isso com alegria e partilhando a amizade verdadeira.

Diante disso, crer ou não crer mostra-se irrelevante.




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