quarta-feira, 22 de junho de 2011

Aposentadoria Faraônica, por Alfredo Attié

Do enviado internacional.

A Câmara dos Lordes, preocupada com o crescente número de parentes de antigos políticos a participarem da política, exercendo cargos por eleição ou nomeação, em todos os âmbitos da Riqueza Comum, acaba de iniciar negociação com a Câmara dos Comuns, visando à propositura de Projeto de Lei a propósito da Aposentadoria dos Políticos. O objetivo é findar com as linhas infindáveis de sucessão familiar na política.

"- Esta é uma Monarquia Hereditária", exclamou um de seus mais ilustres membros, bradando contra a iniciativa. "- Querem terminar com toda uma tradição de séculos, com privilégios legítimos", acrescentou outro.

Mas, para os autores da iniciativa, até as monarquias encontram limites, relativamente ao nepotismo.

A inspiração para o projeto, comentou seu autor intelectual, em entrevista exclusiva para este periódico, é o Egito. "- Depois dos recentes movimentos pela democratização, no chamado mundo árabe, passamos a prestar mais atenção ao que o Antigo Egito nos legou", sentenciou.

De fato, a par de tantas contribuições relativas à organização da produção e do Estado, os aspectos culturais demonstram a sobrevivência de várias ideias egípcias no Ocidente.

"Veja a religião, por exemplo", pontifica o grande arqueólogo britânico, nascido em Alexandria, filho de mãe egípcia e de pai inglês, Sir Joseph Calh Airos Tem'Er Ney, membro da Academia Britânica O egípcios são responsáveis diretos por nossa crença na imortalidade. Criaram todo um sistema de rituais e técnicas para a preservação do corpo para a morada eterna.

O povo Judeu, que vivia em contato com os Egípcios, acabou influenciado pela ideia. Talvez pela relativa inferioridade material, ou por uma tendência ao pensamento mais teórico, formularam-na em termos mais abstratos.

Deixando de lado o fato de os Egípcios terem-se evidentemente enganado (basta observar a quantidade de múmias que, em vez de renascerem no Paraíso, acabaram despertando observadas, dentro de vitrines, em Museus do mundo todo), um aspecto parece poder servir de inspiração, empregado para o aperfeiçoamento político das monarquias renitentes.

Como se sabe, ao falecer, o Faraó, costumava-se encaminhar toda sua parentela e burocracia mais próxima também para o túmulo, deixando livre o mundo dos vivos para o sucessor, sem a influência dos antigos colaboradores e beneficiários da política, que abriam mão dos privilégios e bens materiais hauridos da proximidade ou do exercício do poder, para que a terra realmente pudesse belong to the living, na expressão de um americano mais ingênuo.

Muito bem, o projeto, já denominado de “aposentadoria faraônica” obrigará a aposentadoria compulsória de todos os parentes do político antigo que se aposentar ou vier a, ocasionalmente, num mundo em que a imortalidade está cada vez mais materializada, falecer.

“É impressionante o potencial de renovação da vida pública que a execução do projeto trará”, revela a própria Rainha, um pouco assustada, é bem verdade.

Deixando de lado aspectos ideológicos, a iniciativa parece instigante e poderá trazer novos rumos e ares para o velho Continente.

Em repúblicas mais modernas – caso do Brasil -, contudo, será de pouca utilidade. A par dos princípios e valores morais rígidos, as estatísticas demonstram a pouquíssima incidência de nepotismo, da usurpação dos bens públicos por amigos ou parentes dos políticos. Muito menos existem – como é típico apenas das monarquias hereditárias – famílias de políticos ou casos de sucessão por parentes.

No Reino Desunido, porém, o problema é grave, de tal sorte que a imortalidade -, dos Faraós e de sua influência cultural - parece garantida.

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